O TEMPO VOA, ESCORRE PELAS MÃOS ...

O TEMPO VOA, ESCORRE PELAS MÃOS ...
A LÍNGUA É MINHA MÁTRIA, É MINHA PÁTRIA ... (Caetano Veloso)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Quanto vale a sua palavra?

(1) Depois de alguns meses viajando pelo mundo, cheguei a uma conclusão: nossa palavra (e quando digo ‘nossa’ incluo a grande maioria dos brasileiros) está valendo menos do que a palavra dos cambojanos, tailandeses, vietnamitas e indonésios.
(2) Hoje, temos o péssimo hábito de prometer só da boca pra fora uma lista infindável de pequenas coisas: “Te ligo mais tarde hoje!”, “Amanhã volto pra comprar!”, “Passo na sua casa às 8 em ponto!”, “Segura essa oferta que o carro é meu!!”. E não ligamos mais tarde, não voltamos para comprar, chegamos com 40 minutos de atraso e não voltamos para comprar o carro que ficou reservado. E, pra piorar a situação, também não ligamos para justificar, avisar, cancelar ou explicar.
(3) É triste ter que admitir que muitos de nós, e eu me incluo nisso, falamos por falar! Parece que esse comportamento é mais fácil do que assumir o desinteresse, as meias vontades e até um atraso real.
(4) No mundo corporativo não é diferente. Quantas vezes escutamos: “Em 5 minutos te entrego esse relatório”, e o relatório só vem no dia seguinte; “Preciso desses números pra ontem!”, e o prazo é para a próxima semana; “Amanhã quero todos aqui mais cedo para uma reunião importante”, e quem marcou se atrasa. Assim, tanto no universo “pessoal” como no corporativo a coisa está na mesma, o ciclo do “da boca pra fora” já está virando um hábito, e aqueles que são firmes em suas palavras estão ficando literalmente ilhados num mundo de falsas expectativas ou ilusões.
(5) Foi no Camboja que minha ficha caiu, e a lição foi dada por uma mocinha muito simples vendedora de roupas típicas numa barraca de rua. Gostei de uma peça, mas fiquei na dúvida se devia ou não comprá-la. Olhei, revirei a peça e a devolvi para mocinha, dizendo da boca pra fora: “amanhã passo aqui de novo e levo”. Ela me olhou de modo triste e retrucou: “ontem uma moça como você disse a mesma coisa e reservei o dia todo a peça pra ela, mas até agora ela não veio; acho que não vai cumprir sua palavra. Eu sei que você vai acabar fazendo o mesmo.” Ela disse isso sem querer ofender, falou o que seu coração sentia. Como cambojana, ela vem de um povo que dá valor a tudo aquilo que se diz, como em geral fazem povos de muitos países asiáticos que conheci durante a viagem.
(6) Saí de lá pensando no número de vezes que, para evitar dizer um ‘não’ ou me livrar mais rápido de uma situação, falei o que deu na cabeça, sem realmente perceber que aquilo que dizia não tinha valor.
(7) Depois de vivenciar outras situações entre povos que mantêm aquilo que dizem e só proferem algo quando têm a certeza de que podem cumprir, cheguei à conclusão de que o mundo dos que têm palavra é mais motivador, mais simples, mais fácil e mais gostoso de se viver, pois basta acreditar naquilo que se escuta e falar aquilo em que se acredita, nada mais… E você, qual é o valor da sua palavra?


01. De modo global, no Texto 1, a autora apresenta:
A) uma dúvida.              D) uma solução.
B) uma constatação.    E) um equívoco.
C) um temor.

02. O Texto 1 reforça a imagem do brasileiro como um povo que:
A) costuma esconder a verdade.
B) não acredita facilmente em ninguém.
C) não tem habilidade para fazer negócios.
D) tem o hábito de chegar atrasado.
E) normalmente, não cumpre o que fala.

03. Segundo as informações do Texto 1, no universo corporativo, as pessoas:
A) tendem a cumprir as promessas feitas, porque o que está em jogo é o seu emprego.
B) demonstram maior preocupação com a palavra que empenham umas às outras.
C) são ainda mais infiéis a sua palavra, devido à forte competitividade desse universo.
D) costumam reproduzir o comportamento que têm no mundo pessoal, quanto ao que falam.
E) a fidelidade à palavra empenhada é condição para a manutenção do emprego.

04. “Foi no Camboja que minha ficha caiu.” (5º parágrafo).
Com essa afirmação, o leitor deve entender que, no Camboja, a autora:
A) conscientizou-se do seu comportamento.
B) passou a discordar da atitude de todos.
C) adotou o comportamento dos cambojanos.
D) ouviu várias críticas à atitude dos brasileiros.
E) percebeu que sempre cumpria o que falava.

05. “Parece que esse comportamento é mais fácil do que assumir o desinteresse, as meias vontades e até um atraso real.” (3º parágrafo). Com esse trecho, a autora:
A) demonstra certeza do que diz.
B) compara informações opostas.
C) apresenta uma hipótese.
D) revela convicção do que afirma.
E) introduz a consequência de um fato.

06. Analisando a organização do Texto 1, podemos perceber que ele apresenta as seguintes características:
1) uma voz narrativa que fala em primeira pessoa.
2) a opção por uma linguagem técnica e formal.
3) presença de trechos entre aspas, em discurso direto.
4) uma estrutura sintática difícil, rebuscada e erudita.

Estão corretas:
A) 1, 2, 3 e 4.              D) 1, 2 e 4, apenas.
B) 2, 3 e 4, apenas.     E) 1 e 3, apenas.
C) 1 e 4, apenas.

07. “falei o que deu na cabeça, sem realmente perceber que aquilo que dizia não tinha valor.” (6º parágrafo)
Para manter o sentido desse trecho, o termo destacado pode ser substituído por:
A) de fato        D) contudo
B) ademais      E) somente
C) por isso

08. Considerando as diferentes classes das palavras, analise os enunciados a seguir.
1) “Depois de alguns meses viajando pelo mundo, cheguei a uma conclusão”.
2) “É triste ter que admitir que muitos de nós falamos por falar!”
3) “e a lição foi dada por uma mocinha muito simples vendedora de roupas típicas numa barraca de rua.”
4) “Como cambojana, ela vem de um povo que dá valor a tudo aquilo que se diz”.
Os segmentos sublinhados têm valor de adjetivo nos enunciados:
A) 1 e 2, apenas.         D) 1, 2 e 3, apenas.
B) 3 e 4, apenas.         E) 1, 2, 3 e 4.
C) 2, 3 e 4, apenas.

Depois de alguns meses viajando pelo mundo, cheguei a uma conclusão: nossa palavra (e quando digo ‘nossa’ incluo a grande maioria dos brasileiros) está valendo menos do que a palavra dos cambojanos, tailandeses, vietnamitas e indonésios.
09. Sobre a pontuação do trecho acima, assinale a alternativa correta.
A) Os dois pontos foram utilizados com a função de introduzir uma citação literal.
B) Os parênteses cumprem a função de distinguir duas vozes narrativas, no texto.
C) A primeira vírgula (após a palavra “mundo”) sinaliza uma pausa longa, equivalente a um ponto.
D) O ponto final, após o termo “indonésios”, equivale a reticências, já que a ideia não é concluída.

E) As vírgulas após a palavra “cambojanos” têm a função de separar os itens de uma sequência. 

1 B – 2 E – 3 D – 4. A – 5  C – 6 E – 7 A – 8 B – 9 E)