Quanto vale a sua palavra?
(1) Depois de alguns meses viajando pelo mundo,
cheguei a uma conclusão: nossa palavra (e quando digo ‘nossa’ incluo a grande
maioria dos brasileiros) está valendo menos do que a palavra dos cambojanos,
tailandeses, vietnamitas e indonésios.
(2) Hoje, temos o péssimo hábito de prometer só da
boca pra fora uma lista infindável de pequenas coisas: “Te ligo mais tarde
hoje!”, “Amanhã volto pra comprar!”, “Passo na sua casa às 8 em ponto!”,
“Segura essa oferta que o carro é meu!!”. E não ligamos mais tarde, não
voltamos para comprar, chegamos com 40 minutos de atraso e não voltamos para
comprar o carro que ficou reservado. E, pra piorar a situação, também não
ligamos para justificar, avisar, cancelar ou explicar.
(3) É triste ter que admitir que muitos de nós, e eu
me incluo nisso, falamos por falar! Parece que esse comportamento é mais fácil
do que assumir o desinteresse, as meias vontades e até um atraso real.
(4) No mundo corporativo não é diferente. Quantas
vezes escutamos: “Em 5 minutos te entrego esse relatório”, e o relatório só vem
no dia seguinte; “Preciso desses números pra ontem!”, e o prazo é para a
próxima semana; “Amanhã quero todos aqui mais cedo para uma reunião
importante”, e quem marcou se atrasa. Assim, tanto no universo “pessoal” como
no corporativo a coisa está na mesma, o ciclo do “da boca pra fora” já está
virando um hábito, e aqueles que são firmes em suas palavras estão ficando
literalmente ilhados num mundo de falsas expectativas ou ilusões.
(5) Foi no Camboja que minha ficha caiu, e a lição foi
dada por uma mocinha muito simples vendedora de roupas típicas numa barraca de
rua. Gostei de uma peça, mas fiquei na dúvida se devia ou não comprá-la. Olhei,
revirei a peça e a devolvi para mocinha, dizendo da boca pra fora: “amanhã
passo aqui de novo e levo”. Ela me olhou de modo triste e retrucou: “ontem uma
moça como você disse a mesma coisa e reservei o dia todo a peça pra ela, mas
até agora ela não veio; acho que não vai cumprir sua palavra. Eu sei que você
vai acabar fazendo o mesmo.” Ela disse isso sem querer ofender, falou o que seu
coração sentia. Como cambojana, ela vem de um povo que dá valor a tudo aquilo
que se diz, como em geral fazem povos de muitos países asiáticos que conheci
durante a viagem.
(6) Saí de lá pensando no número de vezes que, para
evitar dizer um ‘não’ ou me livrar mais rápido de uma situação, falei o que deu
na cabeça, sem realmente perceber que aquilo que dizia não tinha valor.
(7) Depois de vivenciar outras situações entre povos
que mantêm aquilo que dizem e só proferem algo quando têm a certeza de que
podem cumprir, cheguei à conclusão de que o mundo dos que têm palavra é mais
motivador, mais simples, mais fácil e mais gostoso de se viver, pois basta
acreditar naquilo que se escuta e falar aquilo em que se acredita, nada mais… E
você, qual é o valor da sua palavra?
01.
De modo global, no Texto 1, a autora apresenta:
A)
uma dúvida. D) uma solução.
B) uma constatação. E) um equívoco.
C)
um temor.
02.
O Texto 1 reforça a imagem do brasileiro como um povo que:
A)
costuma esconder a verdade.
B)
não acredita facilmente em ninguém.
C)
não tem habilidade para fazer negócios.
D)
tem o hábito de chegar atrasado.
E) normalmente, não cumpre o que fala.
03.
Segundo as informações do Texto 1, no universo corporativo, as pessoas:
A)
tendem a cumprir as promessas feitas, porque o que está em jogo é o seu
emprego.
B)
demonstram maior preocupação com a palavra que empenham umas às outras.
C)
são ainda mais infiéis a sua palavra, devido à forte competitividade desse
universo.
D) costumam reproduzir o comportamento que têm no mundo pessoal,
quanto ao que falam.
E)
a fidelidade à palavra empenhada é condição para a manutenção do emprego.
04.
“Foi no Camboja que minha ficha caiu.”
(5º parágrafo).
Com
essa afirmação, o leitor deve entender que, no Camboja, a autora:
A) conscientizou-se do seu comportamento.
B)
passou a discordar da atitude de todos.
C)
adotou o comportamento dos cambojanos.
D)
ouviu várias críticas à atitude dos brasileiros.
E)
percebeu que sempre cumpria o que falava.
05.
“Parece que esse comportamento é mais fácil do que assumir o desinteresse, as
meias vontades e até um atraso real.” (3º parágrafo). Com esse trecho, a
autora:
A)
demonstra certeza do que diz.
B)
compara informações opostas.
C) apresenta uma hipótese.
D)
revela convicção do que afirma.
E)
introduz a consequência de um fato.
06.
Analisando a organização do Texto 1, podemos perceber que ele apresenta as
seguintes características:
1)
uma voz narrativa que fala em primeira pessoa.
2)
a opção por uma linguagem técnica e formal.
3)
presença de trechos entre aspas, em discurso direto.
4)
uma estrutura sintática difícil, rebuscada e erudita.
Estão
corretas:
A)
1, 2, 3 e 4. D) 1, 2 e 4,
apenas.
B)
2, 3 e 4, apenas. E) 1 e 3, apenas.
C)
1 e 4, apenas.
07.
“falei o que deu na cabeça, sem realmente
perceber que aquilo que dizia não tinha valor.” (6º parágrafo)
Para
manter o sentido desse trecho, o termo destacado pode ser substituído por:
A) de fato D) contudo
B)
ademais E) somente
C)
por isso
08.
Considerando as diferentes classes das palavras, analise os enunciados a
seguir.
1)
“Depois de alguns meses viajando pelo mundo, cheguei a uma conclusão”.
2)
“É triste ter que admitir que muitos de nós falamos por falar!”
3)
“e a lição foi dada por uma mocinha muito simples vendedora de roupas
típicas numa barraca de rua.”
4)
“Como cambojana, ela vem de um povo que dá valor a tudo aquilo que se diz”.
Os
segmentos sublinhados têm valor de adjetivo nos enunciados:
A)
1 e 2, apenas. D) 1, 2 e 3,
apenas.
B) 3 e 4, apenas. E) 1, 2, 3 e 4.
C) 2, 3 e 4, apenas.
Depois
de alguns meses viajando pelo mundo, cheguei a uma conclusão: nossa palavra (e
quando digo ‘nossa’ incluo a grande maioria dos brasileiros) está valendo menos
do que a palavra dos cambojanos,
tailandeses, vietnamitas e indonésios.
09.
Sobre a pontuação do trecho acima, assinale a alternativa correta.
A)
Os dois pontos foram utilizados com a função de introduzir uma citação literal.
B)
Os parênteses cumprem a função de distinguir duas vozes narrativas, no texto.
C)
A primeira vírgula (após a palavra “mundo”) sinaliza uma pausa longa,
equivalente a um ponto.
D)
O ponto final, após o termo “indonésios”, equivale a reticências, já que a
ideia não é concluída.
E) As vírgulas após a palavra “cambojanos” têm a função de separar
os itens de uma sequência.
1 B – 2 E – 3 D – 4. A – 5 C –
6 E – 7 A – 8 B – 9 E)